domingo, 16 de outubro de 2011

GÊNEROS - Tragédia Parte II

A palavra tragédia remete à ligação entre o teatro e os ritos populares religiosos de culto Dionisíaco. Deriva da palavra grega tragós, que significa bode, animal muito usado nos sacrifícios dos festivais dionisíacos.

Em sua origem, os ditirambos (cantos constituídos de uma parte narrativa, recitada pelo cantor principal, ou corifeu, e de outra propriamente coral) em honra ao Deus Dionísio (conhecido entre os romanos como Baco) posteriormente evoluindo para o drama, para uma forma mais teatral.

Para entender a relação de Dionísio com os bodes, é preciso que se conheça o mito do Deus:

“Zeus, fora casado com sua irmã Hera, deusa do matrimônio. Hera sempre foi fidelíssima ao marido. Ele, por sua vez, traía-a com semideusas e mortais. Uma dessas mortais, Sêmele, engravidou de Zeus. Ao tomar conhecimento da traição e da gravidez, Hera aproximou-se da ingênua mortal convencendo-lhe a pedir uma prova de amor a Zeus: que ele aparecesse para Sêmele com toda a sua grandeza. Zeus, atendendo ao pedido da amante fez com que ela fosse queimada, pois um mortal não pode ver um Deus. Então, Zeus pegou o feto, o costurou na própria coxa e o gerou. ‘Daí vem o termo fazer algo “nas coxas”’. Nasceu assim Dionísio, chamado Baco pelos romanos. Para que seu filho ficasse protegido da vingativa Hera, Zeus entregou o filho para ser criado pelas ninfas da floresta. Estas, por sua vez, transformavam Dionísio num bode cada vez que Hera tentava se aproximar”.

A tragédia sofisticou-se e despontou como gênero relativamente autônomo no século VII a.C., distanciando-se cada vez mais das festividades religiosas.

Tragédias são peças dramáticas de enredo sério que tem por fim promover no espectador uma catarse, ou purgação, ao assistir a luta dos personagens contra poderes muito mais altos e mais fortes, que em geral os levam à capitulação e à morte. A derrota das aspirações do herói trágico, muitas vezes, é atribuída à intervenção do destino ou aos seus defeitos morais e vícios que concorrem para o seu fim adverso. Atualmente não se encontram mais tragédias, no sentido antigo, e sim dramas com final infeliz.

Segundo a poética realizada por Aristóteles, as tragédias se dividem em 3 partes:

- Unidade de tempo;
- Unidade de espaço;
- Unidade de ação.

E ainda possuem as seguintes características:

* exposição: apresentação dos personagens e da estória.
* conflito: oposição e/ou luta entre diferentes forças.
* peripécia: reviravolta.
* revelação.
* catástrofe: conclusão, acontecimento principal decisivo e culminante.
* catarse: purgação, purificação, que acontece geralmente no final.

“Ao inspirar, por meio da ficção, certas emoções penosas ou malsãs, especialmente a piedade e o terror, a catarse nos liberta dessas mesmas emoções”. (Aristóteles)

Na tragédia grega clássica, o indivíduo luta contra o Destino, uma força imponderável que domina igualmente as ações dos homens e dos deuses. O herói trágico se vê enredado no emaranhado que a fatalidade arma para os incautos.

Os principais trágicos gregos eram:

Ésquilo - Soldado e poeta que lutou contra os Persas na Batalha de Maratona e escreveu, sobre o assunto, a peça: “Os Persas”. Em sua obra, a comunidade e o poder dos deuses se sobrepõem totalmente ao indivíduo. Considerava o sofrimento como caminho para o conhecimento.

Sófocles - Sua primeira peça foi representada no Festival de 468 a.C. Escreveu mais de 100 peças, durante os sessenta anos de sua carreira. Em sua obra Sófocles mostra uma fé inabalável na justiça, mas o seu herói argumenta, exibe suas razões, faz valer sua vontade. Trocou o enorme coturno por um sapato mais leve (crépis), tornando a figura dos atores mais humanizada, mais próxima da realidade. Rompeu com a tradição da trilogia de peças sobre um assunto único.

Eurípedes - Sua crença era de que a fé já não era suficiente. Em suas peças, os poderes divinos ainda prevalecem, mas sua obra contém a indagação sobre a condição humana usando o racionalismo e um tom cético.

Entre as obras trágicas, destacam-se “As Suplicantes”, “Os Persas”, “Os Sete Contra Tebas”, “Prometeu Acorrentado” e a trilogia “Orestíada” formada pelas peças: “Agamêmnon”, “Coéforas” e “Eumênides” de Ésquilo.

“Antígona”, “Ajax”, “Édipo Rei”, “Electra”, “As Traquínias”, “Filoctetes” e “Édipo em Colona” de Sófocles.

E “Hécuba”, “Hipólito”, “As Fenícias”, “Medéia”, “As Troianas”, “Hércules Furioso”, “Ifigênia em Aulide”, “Ifigênia em Táuride”, “Helena”, “Ion”, “Andrômeca”, “As Bacantes”, “Os Heráclides”, “Reso” e “O Ciclope” de Eurípedes.

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