Mudanças encolhem o Festival
Internacional de Teatro
Mudanças no Festival Internacional de Teatro, como a abertura para poucos no Municipal, diminuem o tamanho do evento e afastam a população. |
Duas semanas atrás, a notícia de que a abertura do 13º Festival Internacional de Teatro (FIT) seria realizada no Teatro Municipal “Humberto Sinibaldi Neto” caiu como uma “bomba” no colo dos rio-pretenses. Parte da classe artística tem usado as redes sociais para manifestar seu descontentamento com a escolha. A partir disso, ações pacíficas têm sido discutidas para chamar a atenção das autoridades e da população.
A mudança de
endereço não deve ser lida como um fato isolado, mas “a ponta de um iceberg”.
Em mais de quatro décadas de trajetória, o evento nunca esteve imune a crises.
Mas, ao que tudo indica, a edição 2013 pode ser uma das mais turbulentas até
agora. A principal preocupação é que o festival se torne uma mera mostra a
preencher o calendário local, sem força para movimentar de fato a cidade.
“Desde a Grécia
antiga, o teatro representa encontro, festa, integração. E há muitos anos a
gente não vê esse encontro se estabelecer na cidade. O festival precisa
encontrar novos rumos. Fazer uma abertura a portas fechadas não só é um
retrocesso como uma forma de exclusão”, diz Homero Ferreira, diretor da Cia.
Hecatombe, que está na programação do FIT com “Cheiro de Carne”.
Além de entraves
com a Justiça e o Corpo de Bombeiros, que restringem as opções de espaços
públicos, a falta de dinheiro tem feito com que o festival passe a impressão de
estar sendo “achatado”. São menos grupos, menos cadeiras, menos diálogo. Para
Jorge Vermelho, diretor da Cia. Azul Celeste, que esteve à frente do FIT de
2001 a 2009, os patrocinadores se afastaram justamente porque o festival não
representa mais uma possibilidade de inovação. Na opinião dele, isso seria
culpa da gestão do prefeito Valdomiro Lopes (PSB).
“O FIT deixou de
mobilizar a cidade e isso implica em um imediato afastamento das pessoas. O
festival perdeu em conceito, em envolvimento com os artistas e não representa
mais um espaço de troca. Fazer um festival não é só juntar uma série de
espetáculos e colocá-los nos teatros. Fazer um festival requer conhecimento da área
e proposição de ações que visem ao encontro, à provocação e à reflexão.”
Quem está do outro
lado minimiza as críticas. “Não acredito que o festival esteja sendo achatado.
Particularmente, defendo as mudanças de dinâmica e formato, especialmente num evento
de tantos anos”, diz Marcelo Zamora, diretor da Virtual Cia. de Dança, que se
desligou da coordenação executiva há pouco mais de um mês.
Na opinião do
secretário de Comunicação Social e um dos coordenadores-gerais do evento,
Deodoro Moreira, o público continuará a participar do FIT com a mesma
intensidade das edições anteriores. “Não há uma diminuição grande de recursos.
As perdas sempre foram compensadas com rigor e economicidade na infraestrutura,
sem jamais prejudicar a qualidade e a quantidade de espetáculos. Todos os
festivais do País têm contratempos, o FIT não é exceção.”
Discurso semelhante
é o do gerente do Sesc e também coordenador-geral do evento, Sebastião Martins.
“A programação foi muito bem elaborada pelos curadores. Todas as ações são
feitas para agregar cada vez mais valor e público.” Alexandre Costa, secretário
de Cultura e terceiro coordenador-geral, admite que não pode fechar os olhos
para os problemas dos últimos anos. “Em 2013, muitos festivais passaram e ainda
passam por dificuldades, principalmente no tocante aos incentivos e apoios
culturais. Mesmo assim, estamos cientes da responsabilidade e da importância do
FIT.”
Ele diz que compreende os anseios e as
necessidades da classe artística, principalmente no que se refere à integração
ente artistas e público. Por outro lado, prefere não fazer comparações com o
passado. “Pretendo realizar um evento durante o festival em que convidados,
coordenadores e representantes de grupos teatrais possam discutir a importância
do FIT para a cidade. Acredito que vamos dar início a uma série de debates que
vão escrever o projeto de 2014.”
Abertura de 2007 com grupo francês Transe Express (foto), na Represa, teve manifestação com apitos e distribuição de panfletos. |
Classe artística planeja um
‘boicote’ à abertura do FIT
A Associação dos Artistas, Técnicos, Produtores e Gestores de Cultura de Rio
Preto e Região (Associart) e alguns artistas independentes da cidade querem
protestar na porta do Teatro Municipal “Humberto Sinibaldi Neto”, no dia 4 de
julho, durante a abertura do 13º Festival Internacional de Teatro (FIT).
A ação é definida pelo grupo como um ato público pacífico e apartidário de
solidariedade àqueles que não poderão participar da celebração de abertura do
evento. Ricardo Matioli, diretor da Cia. Palhaços Noturnos e um dos líderes do
movimento, chegou a cogitar pelo Facebook a hipótese de uma espécie de
“apitaço”. Mas, a princípio, o boicote será caracterizado apenas pelo uso de
camisetas com a frase “Abertura do FIT 2013 - Eu Não Fui”.
“Foi uma atitude elitista e comodista dos organizadores. Se não somos ouvidos
dentro de uma sala, vamos para as ruas, mesmo sabendo de possíveis retaliações.
Ainda não decidimos se vamos fazer alguma performance”, afirma ele. O encontro
está marcado para as 19 horas - uma hora antes da atração. Artistas, estudantes
e comunidade em geral estão convidados a aderir à ideia. A intenção é
aglomerar, no mínimo, cem pessoas.
Esta não seria a primeira vez que o período do festival é usado para
manifestações de insatisfação com a política cultural da cidade.
Em 2007, por exemplo, o próprio Matioli e outros profissionais distribuíram
panfletos e apitos aos espectadores para protestar contra a Secretaria de
Cultura, sob a acusação de terem sido excluídos do FIT. O Orkut também foi
usado pelo movimento na época.
“Talvez seja mesmo a hora de os apitos voltarem às ruas, porém, agora, com
objetivo artístico e de avanço, não com teor de oportunismo político”, alfineta
Jorge Vermelho, que era diretor do festival na época. “O Sesc deve ser peça
fundamental nessa mudança e não ser conivente com os atuais desmandos da atual
administração. Se é para renascer, apite!”, completa.
Grito em silêncio
Os integrantes da Cia. Cênica se reuniram na última semana e encontraram outra
saída. “Em respeito aos artistas de fora, não vamos fazer barulho. Sem diálogo,
temos um debate vazio, uma briga de um só lado”, diz o diretor Fagner
Rodrigues. Segundo ele, a trupe não pretende participar de nenhuma atividade -
até porque estará em um novo processo de montagem - nem deve se inscrever nas
próximas edições.
“O grupo existe durante todo o ano, não só no FIT. Por isso, a partir de
agosto, queremos levar nossos espetáculos a bairros da periferia, por conta
própria. A ideia é fazer pelo menos uma sessão a cada dois meses”, planeja
Rodrigues.
Paralelamente, o grupo foi selecionado para o 3º Festival Nacional de Teatro
Pontos de Cultura e Grupos Independentes - Troféu Francisco Pellé, a ser
realizado em setembro, em Floriano (PI).
Costa diz que a organização cogitou vários espaços abertos. |
‘Tentamos de tudo’,
defende-se secretário
A abertura do 13º FIT será no dia 4 de julho, às 20 horas, no Teatro Municipal
“Humberto Sinibaldi Neto”, com a peça “Discurso de un Hombre Decente”, da
companhia colombiana Mapa Teatro. Apesar da ligação história entre a casa de
espetáculos e o evento - foi lá que o festival surgiu, no início dos anos 1970,
com caráter amador - a escolha reduz drasticamente o acesso do público.
Desde 2002, a apresentação inaugural do FIT era realizada no Anfiteatro “Nelson
Castro”, às margens da Represa. Mas, há um mês, o juiz da 1ª Vara da Fazenda de
Rio Preto, Marcelo de Moraes Sabbag, proibiu a realização de eventos naquele
lugar. A decisão é reflexo de uma ação civil pública do Ministério Público, por
conta de denúncias da vizinhança referentes ao excesso de ruídos.
A estrutura do local permitia que cerca de 5 mil pessoas acompanhassem as
apresentações. Além disso, nas três edições mais recentes, a organização do
evento montou uma arquibancada metálica, com 2 mil lugares extras. Ou seja, a
capacidade do Teatro Municipal - 424 poltronas - corresponde a menos de 10% da
quantidade total de pessoas que lotavam o ponto de encontro ao ar livre.
Chegou-se a cogitar a possibilidade de uma abertura descentralizada, isto é,
com apresentações simultâneas em diferentes bairros. Porém, o modelo implicaria
em aumento de cachês, o que seria inviável do ponto de vista financeiro.
O secretário de Cultura de Rio Preto, Alexandre Costa, explica que, quando a
organização percebeu ser impossível utilizar a Represa, pensou em vários locais
abertos. “Todos nós gostaríamos de reunir pelo menos 5 mil pessoas na Represa,
mas não depende de nossa vontade. Cheguei a mandar pintar a arena existente na
Praça Cívica, pensando em abrigar a abertura do FIT. No entanto, já fomos
acionados pelo Ministério Público devido à utilização do local na Virada
Cultural Paulista. Ou seja, tentamos de tudo”, defende-se.
Ainda segundo o secretário, planeja-se uma reunião durante o festival com
representantes da Prefeitura, da Câmara, do Ministério Público, do Poder
Judiciário, das Polícias Militar e Civil e do Corpo de Bombeiros para buscar
alternativas para o uso de espaços públicos nas atividades culturais.
De acordo com o promotor de Justiça Sergio Clementino, o Ministério Público não
ingressou com ação civil pública para impedir eventos na Praça Cívica. “Foi
registrada apenas uma reclamação de morador, que tinha uma pessoa doente na
família e ficou incomodado com o barulho.”
Fonte: http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Divirtase/Teatro/139752,,Mudancas+encolhem+o+Festival+Internacional+de+Teatro.aspx
Data: 16 de Junho de 2013
Data: 16 de Junho de 2013
Matéria: Daniela Fenti