sábado, 10 de dezembro de 2011

GÊNEROS - Teatro do Absurdo Parte II

A palavra “absurdo” remete a o que é contrário à razão, contraditório, disparatado.

O gênero absurdo decende, por assim dizer, do Surrealismo, o Anti-Teatro com influências do Expressionismo. É uma forma de teatro moderno que utiliza para a criação do enredo, das personagens e do diálogo elementos chocantes do ilógico, com o objetivo de reproduzir diretamente o desatino e a falta de soluções em que estão imersos o homem e sociedade. Inspirava-se na burguesia ocidental, que, segundo os teóricos, se distanciava cada vez mais do mundo real, por causa de suas fantasias e ceticismo em relação às conseqüências desastrosas que causava ao resto da sociedade. Assim como o Dadaísmo, o gênero promoveu a revolução na linguagem e na ideologia da sociedade, sendo criticado por um público que, apesar de proletário, consumia o idealismo burguês da época.

“Teatro do Absurdo” foi um termo criado segunda metade do século XX, pós-Segunda Guerra Mundial, pelo crítico norte-americano Martin Esslin, ao colocar sob um mesmo conceito obras de dramaturgos completamente diferentes, mas que tratavam suas obras de forma inusitada da realidade.

Foi criado por Eugene Ionesco, com um livro-texto para o ensino de inglês, que apresentava diálogos entre um casal em que, a pretexto de ensinar o vocabulário de uma estrutura familiar, reproduzia conversas absurdas entre marido e mulher como, por exemplo, esta informando ao marido que eles têm três filhos e que o sobrenome deles é Smith. Ionesco estudava, copiando, sentenças inteiras, desde o primeiro capítulo, com o intuito de decorá-las. Relendo essas frases com atenção, ele não apenas aprendeu inglês, mas descobriu algumas verdades surpreendentes como, por exemplo, que: há sete dias na semana, o que ele já sabia; que o chão fica embaixo e o teto em cima; coisas que ele também já sabia, mas sobre as quais, talvez, não tivesse pensado seriamente ou houvesse esquecido, e que, de repente, lhe pareceram estupendas por serem verdades incontestáveis.

A consciência do absurdo desses diálogos inspirou Ionesco a escrever sua primeira peça, “La Cantatrice Chauve” (A Cantora Careca), em cuja cena mais famosa dois estranhos dialogam sobre banalidades como o tempo, o lugar onde vivem, quantos filhos têm para, surpreendentemente, descobrirem que são marido e mulher.

Com essa peça Ionesco inspirou uma revolução importante nas técnicas dramáticas e inaugurou o “teatro do absurdo” ou o “anti-teatro”. Esse teatro era realmente um teatro “puro”, despojado de convenções, cruelmente poético, arbitrário e imaginativo.

Em resumo, Ionesco rejeitava a estrutura lógica, o desenvolvimento dos personagens e o pensamento do teatro tradicional, tendo criado sua forma própria de comédia anárquica para expressar a existência sem sentido do homem moderno num universo governado pelo acaso. Em seus textos quase não existe história, nem enredo; não há começo, nem fim; existe, sim, o reflexo de seus sonhos e pesadelos; os personagens não são reconhecíveis, assemelham-se a bonecos mecânicos colocados diante do público; toda caracterização é agressiva e balbucios incoerentes tomam o lugar do diálogo.

A estrutura de suas peças pode ser comparada ao orgasmo já que segue o esquema da acumulação, da intensificação, da progressão, da aceleração, da proliferação atingindo o paroxismo, quando as tensões psicológicas, os estados de consciência ou situações são intensificados, tornando-se mais ou menos densos, e emaranhados, atingindo o insuportável. Há de haver a liberação capaz de trazer a sensação de serenidade. E é o riso que faz o papel dessa liberação. Por isso suas peças são dramas cômicos, dramas perpassados de humor.

Os representantes mais importantes desse gênero são Ionesco, Samuel Beckett, Harold Pinter, Jean Genet, Arthur Adamov, G. Schahadé, Antonin Artaud, J. Audiberti e J. Tardieu, na França, Fernando Arrabal, na Espanha, Günther Grass e Hildersheimer, na Alemanha. No Brasil, destaca-se José Joaquim de Campos Leão, conhecido como Qorpo Santo. E o polonês Slawomir Mrózek.

Samuel Beckett era extremamente pessimista e se caracterizou pela falta de sentido geral de seu diálogo. O criador da farsa metafísica com o texto “Esperando Godot”, e seus personagens, dois velhos amigos que se entregam a abundantes diálogos, aliás, quase literalmente retomados na peça.

Alfred Jarry é considerado por muitos o precursor do Teatro do Absurdo com o texto “Ubu Rei” de 1896. Usava a comédia grotesca, adotando um gênero farsesco e sem compromisso com a realidade.

Os textos de maior destaque são: “Esperando Godot” de Beckett, “Ping-Pong” de Adamov, “A Cantora Careca”, “A Lição” e “O Rinoceronte” de Ionesco e “Piquenique no Front” de Fernando Arrabal.

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